Know-how é geralmente utilizado para referir-se ao conhecimento de uma pessoa. Mas você sabia que há diferenças entre os dois termos? Isto porque nem todo conhecimento é igual. Ele pode ser classificado em dois tipos: o tácito e o explícito.
O conhecimento tácito
É aquele que está na cabeça das pessoas, muitas vezes difícil de ser codificado e transmitido por palavras. Sabe aquele jeito de liderar que inspira os funcionários? Ou ainda a maneira como alguns profissionais negociam com os clientes ou fornecedores? Esse tipo de conhecimento é o que mais se aproxima do conceito de “know-how”, que traduzido literalmente significa “saber como”.
Trata-se da maneira de fazer algo que só você sabe, que nem sempre é possível ser sistematizada para ser replicada. Para além desta dimensão técnica, que está estreitamente relacionada ao know-how, o conhecimento tácito abrange, ainda, a dimensão cognitiva, que envolve valores, modelos mentais, ideais e que moldam o modo como vemos o mundo. O conhecimento tácito é intuitivo, complexo, subjetivo e difícil de formalizar.
Um dos primeiros a abordar a dimensão tácita do conhecimento foi Michel Polanyi. Em 1966, o filósofo e cientista húngaro afirmou que “sabemos mais do que podemos dizer”. Ou seja, há algo no conhecimento que é difícil de ser compartilhado por meio de palavras. A própria origem da palavra tácito aponta para esta singularidade. Tácito vem do latim “tacitus”, que quer dizer silencioso, mudo.
Assim, para ocorrer a transmissão desse conhecimento geralmente são necessárias práticas que envolvem uma presença física. Uma delas é a “shadowing” ou “sombreamento”. Esta técnica implica no acompanhamento diário das rotinas de trabalho de uma pessoa a fim de identificar o conhecimento tácito nas tarefas e processos realizados por ela.
Polanyi argumentou, ainda, que o conhecimento tácito envolve um sentimento de paixão pelo que está sendo feito. Muitas vezes quem tem o know-how sobre determinada temática é referência naquilo que faz.
O conhecimento explícito
É aquele que pode ser comunicado por meio de um sistema simbólico. Assim, este tipo de conhecimento já está no papel ou na tela do celular ou computador. São os documentos, os processos, os esquemas e outros exemplos que podem ser apropriados e replicados por outras pessoas.
Tem como características ser estruturado, codificável, universal e facilmente partilhado. Ele não está relacionado ao know-how, pois não se refere às habilidades pessoais e experiências únicas vivenciadas pelo detentor deste tipo de conhecimento.
Os dois tipos de conhecimento – tácito e explícito – são complementares. Imagine um iceberg: o conhecimento explícito seria a parte visível, enquanto o tácito seria a parte submersa.
Os conhecimentos tácito e explícito na espiral do conhecimento
O conceito de conhecimento tácito foi retomado por Nonaka e Takeuchi na construção da espiral do conhecimento. O modelo propõe a criação do conhecimento por meio das interações entre os conhecimentos tácito e explícito.
Ele é composto por quatro modos de conversão do conhecimento:
- Socialização: tácito para tácito entre indivíduos.
- Externalização: tácito para explícito entre indivíduos e grupos.
- Combinação: explícito para explícito nos níveis de grupos e da organização.
- Internalização: explícito para tácito envolvendo os níveis individual, grupos e organização.
Segundo os autores, a criação de conhecimento organizacional ocorre quando o conhecimento tácito é acessado. Trata-se de um processo em espiral, que começa no nível individual e vai subindo para o organizacional. Para isso, é fundamental o comprometimento dos indivíduos com a missão da organização.
Também é importante que exista um ambiente favorável ao compartilhamento do conhecimento, que ofereça condições para a criação do conhecimento organizacional. Este lugar, que não se trata necessariamente de um espaço físico, foi chamado por Nonaka e Konno de “Ba”.
A classificação do conhecimento
Ludvall e Johnson propuseram, em 1994, a seguinte taxonomia ou classificação para conhecimento, a fim de facilitar a compreensão do conhecimento com os tipos de aprendizagem:
- Know-what (saber o quê): refere-se ao conhecimento sobre fatos. O conceito deste conhecimento aproxima-se ao de informação. Este tipo estaria mais ligado ao conhecimento explícito por ser facilmente codificável e disponível de forma explícita.
- Know-why (saber o porquê): refere-se ao conhecimento sobre princípios e leis do movimento na natureza, na mente humana e na sociedade. Também estaria mais relacionado ao conhecimento explícito, embora possa ser construído com base na experiência tácita.
- Know-how (saber como): refere-se a habilidade/capacidade de fazer algo. Está bem relacionado ao conhecimento tácito por ser desenvolvido por meio da experiência prática ao longo do tempo.
- Know-who (saber quem): envolve informação sobre quem sabe o quê e quem sabe fazer o quê e envolve especialmente a capacidade social de estabelecer relações com grupos especializados para ter acesso a sua expertise. Também está bem relacionado ao conhecimento tácito, sendo bem complexo e volátil.
Lundvall argumenta que diferentes tipos de conhecimento necessitam de diferentes modos de aprendizagem. Enquanto know-what e know-why podem ser obtidos com livros, palestras e base de dados, o know-how e know-who estão ligados à experiência e à interação social.
Know-how é tipicamente aprendido em relações de aprendiz-mestre, sendo conhecimento tácito não facilmente transmissível. Know-who também não é facilmente transferido por canais formais de informação, nem pode ser vendido no mercado sem perder algo de sua função intrínseca.
Know-how X Conhecimento
Em resumo, know-how e conhecimento não são sinônimos. O know-how é apenas uma parte do conhecimento, relacionado à dimensão técnica do conhecimento tácito. Ou seja, refere-se à maneira de fazer algo que só você sabe, aprendida com experiências práticas e habilidades pessoais. É mais difícil de ser transmitido, pois é muito subjetivo e intuitivo.
O conhecimento tácito tem ainda uma dimensão cognitiva, que envolve valores, modelos mentais, ideais e moldam o modo como vemos o mundo. Além do conhecimento tácito, o conhecimento é constituído do chamado conhecimento explícito. Trata-se daquele conhecimento estruturado, codificável, universal e facilmente partilhado.